terça-feira, 4 de junho de 2013
O que podemos aprender com os desenvolvedores indies?
A resposta? Muito.
Não é de hoje que várias pessoas ao redor do globo tentam com variados graus de sucesso, se entregar ao exercício sagrado do desenvolvimento de jogos digitais, imaginando inicialmente que poderão impactar as vidas alheias de maneira parecida com a qual foram atingidos, elevados e descompensados pelos seus primeiros jogos digitais, em um futuro nem tão distante assim. Querem, muitas vezes, revolucionar: às vezes sem saber ao certo o que, pois o mercado de jogos digitais está mais amplo do que nunca. Ainda assim, querem revolucionar alguma coisa: serem lembrados, talvez reconhecidos na rua, assediados, marcar e serem marcados.
E aí, a coisa fica feia e a inspiração dos documentários não dura para sempre. Este, senhores, é um texto sobre sugestões do que não esperar do desenvolvimento indie de jogos digitais. Haverá alguma verdade nas palavras deste articulista? Talvez os mais experientes saberão dizer.
- Dinheiro: a maioria das pessoas que conheço e que está no desenvolvimento de jogos digitais retira seus proventos de outros lugares. Os poucos que de fato ganham dinheiro com isso vivem, até onde sei, remediadamente. Há casos, inclusive no Brasil, de gente que ganha muito bem desenvolvendo jogos, mas estes títulos são de propaganda e, às vezes, educativos. Digamos que esse tipo de jogo digital não seja o modelo que você aprendeu a conhecer como entretenimento digital.
- Fama: parece até ingênuo incluir isso aqui, mas estou dialogando com aquela parte do seu ser que já associou o desenvolvimento à fama e que não tem coragem de admitir em público… sim, você! Ah, sobre a citada: a ideia de ser reconhecido e talvez bem-visto dentro de um seleto grupo de pessoas pode ser caracterizado como fama, então, é possível. Não espere muito mais do grande público além de ser reconhecido como uma pessoa que faz joguinhos, pelo menos com a cultura brasileira.
- Cooperação: ela existe, mas é limitada. Não me parece preciso enxergar a comunidade brasileira de desenvolvedores de jogos digitais como uma fraternidade. Há muito sendo escondido entre as poucas empresas e/ou grupos em atividade. Quando se fala em gastos ou ganhos, há um silêncio ensurdecedor. Entretanto, há muita gente boa e cooperativa, que parece ter percebido que ainda não somos uma comunidade e que não podemos nos dar ao luxo de ter segredos empresariais.
Ainda sobre isso: os trabalhos desenvolvidos durante jams abrem portas e servem muito bem para o intercâmbio de idéias. Por isso, participe de quantas puder. As pessoas costumam ser mais receptivas quando se trata de transmissão de conhecimentos sobre a área, e também sobre ferramentas de trabalho.
- Compromisso: prepare-se para encontrar muitas pessoas que se empolgarão com o seu projeto e, por diversos motivos, o abandonarão. Quando não há remuneração imediatamente presente, isso só piora. Faltam-me palavras para enfatizar o quanto existem pessoas em nosso meio que estão mais interessadas em mentir para si mesmas e se acharem desenvolvedoras de jogos do que ativamente trabalharem e terminarem um projeto. Cuidado com os muito empolgados: eles não costumam aguentar por muito tempo.
Aliás, concordo com os que dizem que essa evasão é muito comum dentro do trabalho criativo: devemos evitá-la a qualquer custo e, caso você tenha que sair de um projeto alheio, tenha a decência de avisar. Parece mentira, mas há os que sequer o fazem.
Por fim, na situação mais corriqueira no nosso desenvolvimento – sem remuneração, sem espaço físico próprio ou qualquer tipo de formalidade empresarial – há de se ser forte, paciente, tolerante à frustração e, principalmente, engajado.
Encerrarei o texto considerando a possibilidade de novamente abordar o assunto futuramente. Quero, entretanto, deixar uma mensagem positiva, talvez a única até agora: fazer jogos, para os que gostam, é algo ímpar. É muito prazeroso ver um título pronto e lançado, e melhor ainda é saber que algo que germinou como um lampejo em nossas mentes acaba por influenciar a vida alheia. Esperando que isso influencie, da mesma forma positiva em que fomos influenciados, naquele dia mágico em que, pela primeira vez, interagimos com um jogo digital.
“É complicado, mas vale a pena. Sustente o fogo: a vitória é certa.” (Almirante Barroso)
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